meu celular desligou no meio da última sessão de terapia pré-férias-da-terapeuta. vim aqui gastar a lombra da pergunta que ela fez e não deu tempo de responder: por que você carrega tanta responsabilidade inútil como se fosse sua?

eu ia responder que

talvez tenha sido tarde e eu tenha perdido a deixa. às vezes acontece dos astros se alinharem de um jeito e a pessoa acabar com mais perguntas do que respostas nas mãos.

esses dias o horóscopo me falou pra não ter medo, mas quando fecho os olhos e me pergunto o-que-é-isso-que-estou-sentindo-? não há nenhum outro nome. queria falar tanta coisa. meus melhores amigos são pessoas que começam conversas difíceis sem nenhum esforço. eu sou uma versão melhor de mim com eles. toda vez que alguém me pergunta: por que você permanece nessa angústia? é pena de si ou apego? eu queria dizer os dois, mas eu preciso

meu deus

o quanto antes eu P R E C I S O

sair de cima do muro. o medo de cair do lado errado — mesmo que errar seja o que eu mais queria e, afinal, tô nessa vida pra isso — o medo de cair do lado errado me paralisa.

as minhas crises de claustrofobia eram uma sequência de rotas de fuga sendo traçadas e repetidas na minha cabeça até ela doer. poucas vezes eu fugi. eu dizia: falta tão pouco pra chegar em casa, mesmo que ainda fosse o primeiro ponto do leblon. mas é mais difícil me convencer de que tô no caminho sem saber pra onde tô indo e sem poder abrir uma fresta da janela pra sentir a brisa do mar.

(metáforas, analogias, alegorias. ela ficaria confusa, mas repetiria o que tinha dito mais cedo: a claustrofobia não pode ser igual medo de me relacionar porque a claustrofobia é só minha. e foi assim que eu aprendi a lidar com ela: s e m m a i s n i n g u é m / o que me parece tão mais fácil)

no meu antigo emprego eu me sentia completamente isolada e agora, que loucura, que eu sou a única da equipe que não tá em sampa eu me lembro:

estar perto não é físico.

estar perto não é físico.

então quando alguém que tá ao seu lado é capaz de te fazer sentir só, eu aprendi, você pode até estender a mão, mas às vezes não tem jeito. ainda que vocês se toquem, vai ser um aperto de despedida.

então por que permanecer nessa angústia? não acho que o que eu tinha era uma resposta. perdi o timing, outra vez. em que casa tá a lua? acabei, de novo, com mais perguntas.