essa semana descobri que tenho muito medo.

sexta-feira ajoelhei sobre a cama e rezei mesmo sem acreditar em deus no sábado
caí dobrada sobre meu próprio torso e chorei porque o céu não me deu

A

resposta, no domingo eu voltei a por os pés no meu solo sagrado
que é a rotina de segunda-feira às seis,
mas nada me faz feliz,
nada me faz feliz.

era terça-feira quando choramos de mãos dadas na sala
por cinco minutos eu acreditei que talvez fosse possível
o caminho da paz
ou a paz que é ter um caminho
mas esse medo debilita
essa sensação de não estar nunca
preenchida
como se eu fosse em partes e as partes satisfizessem as bocas alheias
só nunca as minhas
se eu contar isso pra ELES
a compreensão é o que mais me cansa
eu queria que a gente quebrasse os pratos e ficasse de mal por sete anos mas essa azia morna que é ser compreendida
me causa danos
irreparáveis
tanta coisa a ser dita além de “eu entendo”

e daí?
vou me secando porque não quero assustar
quem passa
eu nem queria que tivesse que
passar, mas não sei como se muda o estado das coisas de passageiras pra permanentes
ou se nada nada nada é permanente, como dizem
só queria que fosse ao menos tátil-presente ao invés de memória-fantasia
até te mostraria o que escrevi sobre o último carnaval se eu soubesse que te causaria dúvidas
mas você segura nessa ideia de que me compreende
eu que não sou real
e eu que não te compreendo sei que nada disso existe
a realidade, tolice, não se apreende como a um teorema explícito
se sente com o tato e um pouco menos com os demais sentidos

me apavora
que agora que te sei tanto, já não te sinto

pior

não acredito que isso seja uma despedida
é quinta-feira, eu tenho medo da vida e ela simplesmente continua me sacudindo